Minuto Poesia




Augusto dos Anjos


Ao luar



Quando, à noite, o Infinito se levanta 

A luz do luar, pelos caminhos quedos 
Minha tactil intensidade é tanta 
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos! 


Quebro a custódia dos sentidos tredos 

E a minha mão, dona, por fim, de quanta 
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos, 
Todas as coisas íntimas suplanta! 


Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado, 
Nos paroxismos da hiperestesia, 
O Infinitésimo e o Indeterminado... 


Transponho ousadamente o átomo rude 
E, transmudado em rutilância fria, 
Encho o Espaço com a minha plenitude!






          Augusto dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, atualmente no município de Sapé, Estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos sete anos de idade.
                Era um poeta que transitou do simbolismo para o parnasianismo, evoluindo e ampliando o teor e a beleza da escrita. Faleceu aos 30 anos, em 1914






A poetisa Cora Coralina
  Cora Coralina é um belo exemplo de que a arte e talento surgem para qualquer um, bastando, para isso, que se permita e se dedique a escrever. Cora era doceira, não se atinha a convenções literárias,  baseando-se na realidade sócio-cultural a que ela pertencia. Infelizmente, a poetisa deixou-nos aos 95 anos de idade, em 1985.
   Eis  aqui um dos poemas de Cora Coralina:

Das pedras

Ajuntei todas as pedras
Que vieram sobre mim
Levantei uma escada muito alta
Eno ato subi
Teci um tapete floreado
E no sonho me perdi
Uma estrada,
Um leito,
Uma casa,
Um companheiro,
Tudo de pedra
Entre pedras
Cresceu a minha poesia
Minha vida...
Quebrando pedras
E plantando flores
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude dos meus versos

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O Poeta Drummond

    É impossível falar de poesia brasileira  sem  lembrar do audacioso e inovador  Carlos Drummond de Andrade.  Natural de Itabira, Minas Gerais, passou a infância na fazenda, cursou famácia na capital e foi professor de Língua Portuguesa e Geografia. Foi jornalista, colaborando no Correio da Manhã. Chefiou o gabinete do Ministério da Saúde e da Educação. Em 1930 publica Alguma Poesia, livro do qual extraí o poema a seguir: 
                                              No meio do caminho tinha uma pedra

                                     tinha uma pedra no meio do caminho

                                     tinha uma pedra
                                     no meio do caminho tinha uma pedra.



                                     Nunca me esquecerei desse acontecimento
                                              na vida de minhas retinas tão fatigadas.
                                              Nunca me esquecerei que no meio do caminho
                                              tinha uma pedra
                                              tinha uma pedra no meio do caminho
                                              no meio do caminho tinha uma pedra.

   Apesar das palavras simples, a mensagem descreve o quão marcante fora um revés, um obstáculo na vida do eu-lírico. Aliás, a proximidade popular do discurso torna  o poema íntimo, dialogando diretamente com as histórias de vida de milhares de brasileiros e brasileiras. Contudo, o texto sofreu duras críticas, sendo entre elas o fato de Drummond utilizar "tinha" ao invés de "havia". Polêmicas à parte, a poesia de Carlos Drummond de Andrade romperam com barreiras políticos-sociais, valendo-se de palavras e temáticas simples, porém profundas e universais.


Fonte: Moiés, Massaud-A literatura brasileira através dos textos-São Paulo, Cultrix 2007

4 comentários:

  1. Opa! Está ficando bem legal o blog... Ainda bem que a ideia perdurou! Haverão pedras no caminho de sua construção, mas certamente será mais uma ótima ferramenta para o desenvolvimento da querida EMEF André Tosello! Abraços!

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    1. Olá Guilherme! Muito obrigado pelo comentário. Estamos empenhados em ampliar e aprofundar os tópicos aqui discutidos. Continue acompanhando e participando!

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  2. lindo poema de Cora Coralina, Neide 4º termo

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  3. lindo o poema de Cora Coralina. Neide 4º termo A

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